Um velho monge e um jovem monge estavam andando por uma estrada quando chegaram a um rio que corria veloz. O rio não era nem muito largo nem muito fundo, e os dois estavam prestes a atravessá-lo quando uma bela jovem, que esperava na margem, aproximou-se deles.A moça estava vestida com muita elegância,abanava o leque e piscava muito,sorrindo com seus olhos muito grandes.
- Oh- ela disse-, a correnteza é tão forte,a água tão fria, e a seda do meu quimono vai se estragar se eu o molhar. Será que vocês podem me carregar até o outro lado do rio?
E ela se insinuou sedutora para o lado do monge mais jovem.
O jovem monge não gostou do comportamento daquela moça mimada e despudorada. Achou que ela merecia uma lição. Além do mais, monges não devem se envolver com mulheres. Então, ele a ignorou e atravessou o rio. Mas o monge mais velho deu de ombros, ergueu a moça e a carregou nas costas até o outro lado do rio. Depois os dois monges continuaram caminhando pela estrada.
Embora andassem em silêncio,o monge mais novo estava furioso. Achava que o companheiro tinha cometido um erro ao ceder aos caprichos daquela moça mimada.E, pior ainda, ao tocá-la tinha desobedecido às regras dos monges. O jovem reclamava e vociferava mentalmente, enquanto eles caminhavam subindo montanhas e atravessando campos. Finalmente, ele não aguentou. Aos gritos, começou a repreender o companheiro por ter atravessado o rio e carregado a moça.
Estava fora de si, com o rosto vermelho de tanta raiva.
- Ora,ora- disse o velho monge.- Você ainda está carregando aquela mulher?Eu já a pus no chão há uma hora.
E,dando de ombros, continuou a caminhar.
(texto extraído do livro 'Contos Budistas' de Sherab Chodzin e Alexandra Kohn,Editora Martins Fontes 2003.)
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